O motivo do ano Bissexto



Na nota "O bug do ano 1900" (Banco de Idéias, dezembro/98), mostramos que as planilhas do Excel admitem a data 29/02/1900, que nunca houve porque o ano 1900 não foi bissexto. Vários leitores enviaram mensagens para INFO EXAME insistindo que esse bug não existe, visto que 1900 foi, sim, um ano bissexto. Essa afirmação não é correta. Eis por que:

No ano 46 d.C., Júlio César, imperador romano, instituiu o calendário Juliano. Nele, o ano era definido como um período de 365 dias e 6 horas, ou seja, 365,25 dias. Para resolver o problema criado por essa fração de um quarto de dia, definiu-se que, a cada quatro anos, haveria um ano de 366 dias. Surgiu, assim, o ano bissexto. Com o avanço do conhecimento astronômico, observou-se que o calendário de César continha um pequeno bug: na verdade, a duração do ano não é 365,25 dias, mas 365,29219 dias. No curto prazo, essa diferença parece desprezível mas, ao longo de séculos, pode conduzir a erros consideráveis. Entra em cena o papa Gregório XIII, que em 1582 estabeleceu o calendário gregoriano, vigente desde então nos países católicos e a partir de diferentes datas em outras regiões. O novo sistema admite:

que o ano tem duração de 365,2925 dias. Ou seja, em lugar de 6 horas inteiras, são 5,82 horas. Portanto, não era mais possível continuar a usar o esquema simples de acrescentar um dia a cada quatro anos. Isso produziria um erro de três dias a mais a cada 900 anos. Para fazer o ajuste, convencionou-se que os anos redondos múltiplos de 100 só seriam bissextos se fossem também múltiplos de 400. Resultado: o célebre ano 2000 será bissexto, 2400 também. Mas 1900 não foi, assim como 2100, 2200 e 2300 não serão.

Os ajustes para a passagem de um calendário para outro produziram algumas situações surrealistas. Nos países sob a influência da Igreja de Roma, houve um salto de dez dias em 1582, quando 15 de outubro foi o dia seguinte de 4 de outubro. Fato idêntico ocorreu em 1752 nos países anglo-saxões: após o dia 2 de setembro veio 14 de setembro. Na Rússia, o atual calendário só entrou em vigor neste século, em 1918. Um detalhe sutil: ao aproximar a duração do ano de 365,29219 para 365,2925, o calendário gregoriano também deixa margem para imprecisões. Nesse caso, em cada 10 000 anos vai ser necessário suprimir três dias.

 Artigo publicado na Revista Info Exame nº 156 março/1999 página 132

 Obs: Se estas correções não fossem feitas, ao longo dos séculos, as estações do ano, verão, inverno, outono e primavera seriam deslocadas dos meses que estamos habituados.

Precisamos estar atentos para que no ano 10.000 sejam suprimidos 3 dias, eu sugiro suprimir os dias 31 de janeiro, 31 de maio e 31 de outubro. Se você acha que no ano 10.000 não vai haver mais nada, lembre-se que a idade estimada do nosso planeta é de 4.000.000.000 (quatro bilhões de anos) portanto, 10.000 anos está bem ali, pertinho, vai chegar logo logo. Precisamos formar uma comissão para lembrar as autoridades da necessidade desta correção no momento oportuno.

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